Definição de ateísmo


Em minhas discussões com ateus, percebo que têm usado a expressão de que lhes “falta a crença em Deus”. Dizem que isso é diferente de afirmar que Deus não existe. Não sei bem como responder a isso. Parece-me um jogo tolo de palavras e é logicamente o mesmo que dizer que não se acredita em Deus. Como eu poderia dar uma boa resposta para isso?
Obrigado pelo seu tempo.
Steven

Resposta Dr. Craig
Seus amigos ateus estão certos em afirmar que há uma diferença lógica importante entre crer que Deus não existe e não crer que Deus existe. Compare minha declaração, “Acredito que não existe ouro em Marte”, com minha outra declaração, “Não acredito que existe ouro em Marte”. Se não tenho opinião a respeito da questão, então não acredito que existe ouro em marte e não acredito que não existe ouro em Marte. Há uma diferença entre afirmar “Eu não acredito em (p)” e “Eu acredito em (não p)”. Há um mundo de diferença lógica dependendo da posição em que se coloca a negação.
Contudo, o erro de seus amigos ateus está em afirmar que o ateísmo compreende somente não acreditar que Deus existe em vez de acreditar que Deus não existe.
Há um pano de fundo histórico por traz disso. Em meados do século XX, alguns ateus promoveram o conhecido “pressuposto do ateísmo”. Sem maior análise, poderia parecer que a alegação de que, na falta de evidência favorável à existência de Deus, deveríamos supor que Deus não existe. O ateísmo é uma espécie de posição padrão, e o teísta tem a responsabilidade de apresentar o ônus da prova, quanto à sua crença de que Deus existe.
Assim compreendido, o pressuposto adotado é evidentemente um equívoco. A asserção “Deus não existe” é uma afirmação de conhecimento tanto quanto o é a asserção “Deus existe”. Portanto, a primeira exige uma justificativa do mesmo modo que a última. O agnóstico é quem não faz nenhuma afirmação de conhecimento acerca da existência de Deus. Ele confessa que não sabe se Deus existe ou se Deus não existe.
No entanto, ao olhar-se mais de perto o modo como os protagonistas do pressuposto do ateísmo empregavam o termo “ateu”, descobre-se que a palavra é definida de maneira atípica, como sinônimo de “não teísta”. Assim compreendido, o termo abrangeria tanto os agnósticos como os ateus tradicionais, juntamente com os que consideram a questão sem sentido (verificacionistas). Conforme confessa Antony Flew:
no presente contexto, a palavra “ateu” deve ser analisada gramaticalmente de modo incomum. Hoje, é normal considerar que signifique alguém que nega explicitamente a existência [...] de Deus [...]. Mas aqui ela tem de ser entendida não positivamente, mas negativamente, lendo-se o prefixo grego “a-” originalmente da mesma maneira em “ateísmo” conforme costuma ser lido em [...] palavras como “amoral” [...]. Assim interpretado, ateu passa a ser não alguém que assevera positivamente a não existência de Deus, mas simplesmente alguém que não é teísta. (A Companion to Philosophy of Religion, org. Philip Quinn e Charles Taliaferro [Oxford: Blackwell, 1997], s.v. “The Presumption of Atheism”, por Antony Flew)
Essa redefinição da palavra “ateu” trivializa a alegação do pressuposto do ateísmo, porque, de acordo com ela, o ateísmo deixa de ser uma visão. É um mero estado psicológico partilhado por pessoas que adotam varias visões ou visão nenhuma. Segundo essa redefinição, até mesmo bebês, que não têm nenhuma opinião sobre a matéria, são considerados como ateus! De fato, Muff, nossa gata de estimação, segundo tal definição, é considerada ateia, já que ela (até onde eu sei) não tem nenhuma crença em Deus.
Ainda se poderia requerer uma justificativa para saber se Deus existe ou não — a questão na qual estamos realmente interessados.
Assim, talvez você se interrogue, por que razão os ateus estariam tão ansiosos para banalizarem assim a própria posição? Nisto concordo com você: muitos ateus têm feito um jogo enganoso. Caso se considere que o ateísmo seja uma visão, a saber, a visão de que Deus não existe, então os ateus têm de arcar com a sua parte do ônus da prova para apoiar essa visão. Contudo, muitos ateus admitem francamente que não conseguem sustentar o ônus da prova. E, assim, tentam escapar de sua responsabilidade epistêmica com a redefinição do ateísmo, de modo que não é mais uma visão, mas apenas uma condição psicológica que, como tal, não faz afirmações. Na realidade, eles são agnósticos enrustidos que querem reivindicar a capa do ateísmo sem arcar com a responsabilidade dele.
Isso não é nada sincero e ainda nos deixa esta pergunta: “E aí, Deus existe ou não?”.
William Lane Craig
Originalmente publicada como: “Definition of Atheism”. Texto disponível na íntegra em: http://www.reasonablefaith.org/definition-of-atheism. Traduzido por Marcos Vasconcelos. Revisado por Cristiano Camilo Lopes.


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